Carta de amor pra Dra. Rosa

“Minha cabeça trovoa sob o meu peito eu te trovo e me ajoelho, destino canções…”. Rosinha, ando intuitivamente pensando no ano de trabalho juntos, e gostaria de desde já te agradecer imensamente. “Flores vermelhas, Vênus, bônus, tudo que me for possível, ou menos, mais ou menos, me entrego, me ofereço, reverencio a sua beleza, física também, mas não só, não só”. Ando com a sensação de que foi o ano, um dos, o, mais importante nessa minha trajetória hospitalar. “Graças a Deus você existe, acho que eu teria um troço, se você dissesse que não tem negócio”. Pude experimentar a leveza de poder ser eu, sem julgamento, “vou sossegado e assobio, e é porque eu confio em teu carinho, mesmo que ele venha num tapa…”, sem o seu julgamento. Talvez eu seja isso mesmo, uma coisa mais pra doida, que tem uma certa dificuldade de esperar o outro. Um espelho borrado entre minhas experiências, meus sonhos e meus fatídicos privilégios. E com isso, e apesar disso, essa sua presença parceira, “Metralhando a quinquilharia que carrego comigo, clipes, grampos, tônicos. O aço fino da navalha que faz a barba, o aço frio do metrô, o halo fino da tua presença…”, me eleva.

Mas agora, depois de tudo que fomos e deixamos de ser, quando fecho os olhos e relembro o ano, vejo inúmeras Rosas. Rosas Livres, Rosas espinhentas, “Descabelada, diva, súbita ,súbita. Seja meiga, seja objetiva, seja faca na manteiga”, amorosa, bailante… e o simples ato de cheirar-te, me cheira a arte, me leva a Marte, a qualquer parte, a parte que ativa a química, ignore a mímica e a educação física, só se abastece de mágica, explode uma garrafa térmica”. E com isso percebo que estou aprendendo a olhar um pouco mais, a admirar mais os outros, e ainda sim, sendo eu. Aprendendo que, cada vez mais, quero mais pessoas livres ao meu lado, e que pra isso preciso aprender a ser mil eu’s de eu mesmo “toda dureza incrível do meu coração feita em pedaços”. Me perdoe se em momentos tudo isso não foi confortável pra você, mas “Se você for embora eu vou virar mendigo, eu não sirvo pra nada”.

É que eu acho, quer dizer, eu sei, “e como você, eu sei, quer dizer, eu acho que sei, eu acho que sei”, que o trabalho do hospital não é um espetáculo ensaiado e sim um espetáculo da vida, que nos transforma pra transformar o outro, um “deslocamento atômico, para um instante único, em que o poema mais lírico, se mostre a coisa mais lógica”. Contudo “sob o teu manto eu me entrego, ao desafio de te dar um “beijo”, entender o teu desejo, meu amor é imenso, maior do que penso é denso , espessa nuvem de incenso, de perfume intenso”, e gostaria de te agradecer de coração pelo ano, nós é “Brodi”. E dizer que ao longo dessa caminhada na terra espero sempre poder te “abraçar com força descomunal, até que os braços queiram arrebentar toda a defesa que hoje possa existir, e por acaso queira nos afastar”, e desejar sempre “ nunca se esquecer aonde nasce e mora todo o amor”.

Do fundo do coração, Mulambo do Sertão.