O menino que virou pedra

Pequeno, bem pequeno, ele sempre estava lá. No começo ainda não percebia que ele estava virando uma pedra, pois alegre nos recebia!

— Ô, palhaço! Ô, palhaço, eu estou aqui! Aqui, ó!

Ele, arteiro, se escondia debaixo da cama, atrás da porta, no colo de sua mãe. Ela, por sua vez, esperava os dois palhaços se distraírem e já dependurava o menino na vara de soro, para que não descobríssemos que Briant era um menino. A mãe o ajudava a se esconder nos esconderijos mais inusitados!

Um dia ele começou a falar de si mesmo, como se ainda estivesse escondido. Mesmo a gente falando com ele, o menino dizia: ali,  ó, eu estou escondido ali, ó! E apontava lugares loucos, como lixeiras, pias, banheiros. Nós, palhaços, tínhamos que ir até onde ele apontou, tirar algo inusitado de lá, como um rato ou uma calcinha. Reagíamos ao objeto e voltávamos a perguntar para o menino. Depois de tirarmos tudo o que tínhamos no jaleco e mais uma vez perguntar:

— Cadê o Briam? 

Ele, de cima de uma cadeira , encolhidinho, agachado, com a carinha mais feliz e boca banguela, disse:  

— Não sei!

Eu insisti na pergunta!

—Mas não é possível que ele tenha sumido!

Me apoiei em cima dele. Meu parceiro perguntou:

— Mas o que é isso aí embaixo de você?

Eu olhei para o Briant e esperei que ele respondesse.

— É uma pedra! Disse ele, e deu uma enorme gargalhada, contagiando todo mundo do quarto.

Dr. Mulambo do Sertão e Dra. Rosa atuam duas vezes por semana no Hospital das Clínicas – UFMG.