Chegamos as corredor do terceiro andar para mais um dia de trabalho. Após a higiene de sempre no posto de enfermagem do João XXIII, percebemos que o corredor estava tomando banho e tinha se transformado num mar sem fim! Isso nos impossibilitaria de seguir aos quartos para atendimento. Havia do nosso lado, uma maca muito convidativa e eficaz, para que chegássemos a nosso destino sem molhar nossos pés e melhor ainda, sem sujar o chão. Eu, Doutora Brisa, convidei a doutora Rolha de Cortiça para subir na maca! Eu a levaria até nosso destino! Mais que rapidamente, ela topou e subiu no meio de transporte hospitalar. Deitou de barriga para baixo, levantou as pernas e mãos e iniciou seu vôo! Era uma prancha de surf motorizada! Entramos no primeiro quarto e solicitamos ajuda dos que lá dentro estavam, para que retornássemos ao corredor. Coloquei meu lindo Instrumento de UltrasonagrafiaAcordeon em cima da grande parte traseira inferior da Doutora Rolha de Cortiça, para ter mais mobilidade nas curvas. Um pai especialista em baliza, nos orientava. Prancha virada, quarto finalizado, pegamos a ultima onda para sair do ambiente! E aí… Buummmm! Fooomm! Creeeccc!
O Acordeom caiu no chão! Suas teclas estavam tortas, abertas, saindo pra fora! Não tocava! Apenas gemia de dor com um som estranho e fora de qualquer escala musical. Meu coração subiu para a boca… Meus olhos se encheram d’água! Em segundos eu me dei conta de que perdia ali, naquele momento, uma companheira de quase 8 anos de trabalho! Estávamos num hospital! O local mais indicado para cuidados, para pequenos reparos físicos… Mas isso não foi suficiente pra trazê-la de volta!
O dia de trabalho se modificou a partir deste momento! Chorei em todos os quartos, explicando o acontecido! Doutora Rolha de Cortiça às vezes se compadecia, às vezes se explicava, às vezes se irritava… Mas eu, não conseguia parar de chorar!
Recebi muitas condolências, muitos abraços de pêsames, muitas promessas de colaboração para a aquisição de um novo instrumento… Foi um dia triste! De perda! Despedidas não são fáceis! Ela realmente se foi! Não foi possível recuperá-la!
Duas semanas depois, voltei ao hospital com uma nova parceira! Da mesma cor, um pouco maior e com um pouco mais de possibilidades musicais! Fomos recebidas com rostos surpresos e perguntas sobre a velha amiga…
Infelizmente, agora, ela agora só mora em pensamentos e lembranças dos caminhos vividos e das histórias percorridas por tantos hospitais e variados atendimentos!No coração, um sentimento de agradecimento e saudade pelo que perdi. Uma nova história começa agora! É preciso coragem para superar as despedidas e seguir a vida! O que não tem remédio, remediado está! Vida que segue!
Dra. Brisa